08/02/2010
Entrevista com o Engenheiro Luiz Henrique
Boa Noite Leitores,
Hoje é com extrema felicidade que realizo a primeira entrevista do QG do Petróleo com o Engenheiro Luiz Henrique de Souza.
O nosso entrevistado tem mais de 27 anos de experiência na indústria do petróleo, é consultor da Gerson Lehrman Group Consulting Corp. Tem diversos artigos relacionados à engenharia de petróleo publicados, já atuou na Petrobras e em outras grandes empresas privadas. Resumindo, tem um currículo invejável.
QG do Petróleo: A Petrobras, maior empresa brasileira, não admite tecnólogos em seu quadro profissional. O que você acha disso? No futuro, os engenheiros e os tecnólogos disputarão as mesmas vagas?
- Acho que o curso de tecnólogo em petróleo serve para completar atividades como ocorreu na empresa privada de petróleo em que trabalho. Dois funcionários do meu setor, um Projetista Mecânico e uma Técnica de Instrumentação fizeram o curso, pago pela empresa, e, hoje, dominam com muito mais segurança suas atividades nesta área. Os termos técnicos, jargões, etc. são facilmente entendíveis por eles que não mais, apenas, fazem o que os profissionais da área dizem, mas, dão palpites valorosos.
Então, não creio nesta competição, nem agora, nem num futuro próximo.
QG do Petróleo: O que é mais recomendado para um recém-graduado: prestar concurso público, fazer uma pós-graduação ou ficar na indústria privada?
- Concurso público: Petrobras ou ANP!
Petrobras: O engenheiro, dificilmente, atuará com Engº de Petróleo, mas, ficará fiscalizando empreiteiras. Pode ser frustrante para aquelas pessoas mais dinâmicas!
ANP: Atividade puramente, burocrática, mesmo a fiscalização.
- Pós-Graduação: Se você é um Engº de Petróleo “generalista”, isto é, quer atuar tanto no upstream, midstream como no downstream, não faça uma pós agora, espere ingressar na área e ver o que mais irá lhe apelar. Se você tem tendência para alguma destas atividades faça uma relacionada a esta escolhida.
QG do Petróleo: Mesmo com os déficits de engenheiros de petróleo formados todos os anos, algumas pessoas acreditam que o mercado de trabalho não é promissor devido às preocupações ambientais. Você compartilha dessa opinião?
- Houve um tempo que temi pela atividade devido à ferocidade insensata dos ambientalistas, mas, hoje em dia não temo mais, ninguém segura mais a atividade de petróleo no Brasil. Principalmente, porque os políticos gostaram dos valores dos royalties envolvidos.
QG do Petróleo: Como os novos engenheiros têm chegado ao mercado de trabalho? As universidades preparam bem esse aluno?
- “Um Engenheiro de Petróleo para ter um palpite seu, ao menos, ouvido tem que ter, no mínimo, 10 anos atuando na área”. A graduação, a faculdade dita, mas a formação é você quem faz com estudo, leitura de revistas e sites especializados e dedicação.
QG do Petróleo: Além da fluência em inglês, que outros requisitos esses profissionais devem possuir?
- Curiosidade e vontade de aprender, não somente com os mestres, mas, também, com o pessoal que “pega pesado” nas sondas, estações de produção e refinarias. Estes deram sentido à minha formação acadêmica adquirida.
Os alunos têm grande carga horária em disciplinas como física, matemática e química. Ao passar dos anos, esse conhecimento foi importante na sua carreira?
- Sim. Como exemplo! Se tivesse tido uma carga maior e mais específica talvez, não necessitaria estudar, hoje, um livro chamado “Manual do Engº Químico” , do Perry, para completar o conhecimento nas pesquisas que estou fazendo no momento.
QG do Petróleo: A engenharia costuma atrair muitos alunos com a perspectiva de altos salários. Na prática, isso realmente acontece?
Mais altos que a média em outras atividades profissionais. Em média, no Brasil, com 5 anos de experiência, entre R$ 9.000,00 e R$ 10.000,00/mês. No exterior, entre US$ 70.000,00 e US$ 90.000,00/ano, em ambas, mais benefícios.
QG do Petróleo: Além dos salários que outras vantagens atraem esses profissionais?
- Viagens, contatos com outras culturas, alta tecnologia a disposição, a adrenalina de atuar em ativos milionários já seriam, a meu ver, vantagens. Mas, temos, pecuniariamente, boas diárias de viagem, bônus por produção/participação, etc.
QG do Petróleo: Como foi a experiência de trabalhar embarcado? É realmente perigosa? Conte-nos a melhor e a pior coisa desse tipo de serviço.
- Fascinante! Principalmente nos anos 80 em que não tínhamos acesso a tão farta literatura e conhecimento (internet) como hoje e aprendíamos na base do erro/acerto. A sensação do pioneirismo era tremenda. O melhor? A experiência adquirida. O pior? Não ter visto meu único filho crescer, como trabalhei muito no exterior era 8 meses fora por 1 mês em casa e assim se foram quase 10 anos!
QG do Petróleo: Como você encara as descobertas do pré-sal? O Brasil ficará entre os maiores produtores de petróleo?
- Até agora, pelo que tenho informação, teremos um aumento substancial apenas de produção de óleo leve em quantidade (Campo de Jubarte/ES), mas, esse “boom” de óleo depende de quanto vai se investir em pesquisas de materiais e procedimentos novos de prospecção.
QG do Petróleo: Como você analisa a evolução da carreira de engenharia de petróleo nos últimos anos?
- Até mesmo pelo monopólio, a Petrobras nos tirou das trevas para a idade da luz em termos de engenharia de petróleo.
QG do Petróleo: Quais os conselhos que você daria aos futuros engenheiros e tecnólogos? O que deve ser evitado também?
- Tenham em mente que vocês escolheram uma carreira dinâmica, quando digo isto me refiro, principalmente, a mobilidade física que deverão ter. Não pensem em fazer uma grande carreira sentado em um bom escritório do Rio de Janeiro ou São Paulo!!!
Evitado: Essas pós-graduações e mestrados da moda. O que tem aparecido na empresa em que trabalho é, sinceramente, decepcionante.
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