Reproduzo excelente postagem do blog Campos Marginais do pessoal da Escola de Minas e Petróleo da UFBA. Lendo a postura adotada pelo blog e a reportagem da Revista Carta Capital (a qual não morro de amores), voces verão o que tenho dito até a exaustão sobre os pequenos prosutores de petróleo e gás no país e o cerceamento a liberdade do livre comércio praticado pela Petrobras usando sua força politica (de viés atrasado) e econômica.
Luiz Henrique
luizhenrique_99@yahoo.com
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terça-feira, 8 de maio de 2012
DISPUTA ATÉ A ÚLTIMA GOTA
Reportagem
muito interessante feita pela Revista Carta Capital, que mostra
importância que os pequenos produtores tem para o desenvolvimento do
interior do país, e as dificuldades encontradas por quem trabalha nesse
segmento. Na minha opnião, o desenvolvimentos dos campos marginais seja
mais benéfico ao Brasil que o pré-sal, pois o dinheiro gerado pelo
pre-sal, sabemos infelizmente que no nosso país ficará na mão de poucos,
enquanto os o desenvolvimento de campos maduros no interior do país faz
aquecer a economia de municpíos muitas vezes sem nenhum tipo de
desenvolvimento, seja pelo ganho royalties, seja pela necessidade que as
empresa produtoras tem de atender suas necessidades. Criam-se pousadas,
oficinas mecânicas, restaurantes, postos de combustíveis entre outras
ativdades importantes para suprir a necessidade dos pequenos produtores.
E vocês, oque acham? Confiram a reportagem e opinem:
Um turista talvez confunda
com uma máquina rudimentar, como um antigo monjolo, o mecanismo de
movimento monótono, aparentemente perdido em meio à vegetação litorânea
de Sergipe, entre casas de pau a pique e algumas cabeças de gado. Mas
qualquer morador dos povoados de Tigre e Junça, situados naquela região
praiana, distante uma hora e meia da capital Aracaju, sabe que aquilo é
um cavalo de pau, uma bomba usada para extrair petróleo do solo. O poço
pertence ao Grupo Severo Villares, um dos poucos que ainda exploram, no
Nordeste, o recurso mineral em um campo marginal, como são chamadas as
áreas com baixo potencial de produção, mas ainda capazes de garantir
lucro aos interessados em investir quantias relativamente baixas para
ingressar em um setor dominado por grupos de grande porte.
A atuação petrolífera da Severo Villares, originalmente uma prestadora de serviços de logística, transporte e fornecimento de mão de obra, se resume à exploração de dez poços, espalhados em uma área de 20 quilômetros quadrados. Apenas quatro estão em operação, e a empresa aguarda a aprovação da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para fazer novas perfurações no terreno, que teria revelado potencial para incrementar a produção atual, de cerca de cem barris diários.
Ainda que a extração de petróleo empregue apenas quinze funcionários, e nem todos sejam moradores da região, a chegada da empresa trouxe mudanças significativas às poucas dezenas de famílias dos povoados, onde a maioria dos moradores se conhece e quase todos adotam “dos Santos” no sobrenome, mesmo que não haja grau de parentesco.
“Na roça a gente trabalha todo dia e não tem quase nada. Agora dei uma arrumada na casa, comprei tevê, sofá, estante”, afirma Genilson dos Santos, de 33 anos, pai de seis filhos. Ele trabalha no galpão da pequena petrolífera ao lado do amigo de infância Ednilson Bispo dos Santos, de 30 anos, que chegou a se mudar para a periferia de Aracaju, onde trabalhou como pedreiro. Graças à chegada da empresa, pôde voltar para a terra natal. “Tinha de pagar aluguel e vivia uma vida meio ‘dificultosa’ na capital.”
Os benefícios não foram colhidos apenas pelos empregados. O bar local se transformou em restaurante, e uma pousada foi aberta. O comércio começou a atrair também funcionários da Petrobras, que mantém operações a alguns quilômetros dali. Empresas da região custearam a construção de um galpão para a prática de artesanato, uma das poucas alternativas locais de renda. “O dinheiro que ganho aqui é tudo o que chega às minhas mãos”, conta a fundadora da Associação de Artesanato dos Povoados de Tigre e Junça, -Iracema dos Santos Teixeira, de 47 anos.
No Brasil do pré-sal, com novas reservas estimadas na casa de dezenas de bilhões de barris de petróleo, é difícil enxergar relevância econômica em operações fadadas a gerar algumas dezenas, ou centenas, de barris diários. Mas o tema motivou uma polêmica recente na discussão das novas regras para o setor, em tramitação no Congresso. Uma emenda do projeto do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) previa que os campos de até 1 milhão de barris – limite para serem classificados como marginais – teriam as concessões licitadas a exploradores independentes.
Em meados de novembro, a proposta foi substituída no relatório por um artigo que atribui ao Poder Executivo a responsabilidade de elaborar políticas e medidas de estímulo à atividade de petroleiras de pequeno e médio porte. Segundo representantes do segmento, a mudança obedeceu a pressões da Petrobras. “Somos reféns da oferta de áreas atrativas para ganhar escala de produção”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás, Oswaldo Pedrosa.
Procurada por CartaCapital, a Petrobras respondeu que a emenda resultaria em “impacto direto nas estratégias de exploração e produção da companhia”. De acordo com a estatal, as bacias maduras terrestres (áreas exploradas há muitos anos) são responsáveis por 18% da produção nacional.
“A Petrobras não entende que deva ser responsável por estimular esse segmento da indústria através da cessão de direitos e obrigações de contratos de concessão e de ativos que são aderentes à sua estratégia empresarial de exploração e produção”, informou a empresa, em nota. “Os campos em bacias maduras terrestres dos quais a Petrobras é concessionária somente deixarão de ter importância estratégica para a companhia quando tornarem-se inviáveis economicamente.”
Os defensores da entrada de novos grupos no setor questionam justamente a diferença do conceito de viabilidade econômica para grandes e pequenos produtores. “Como uma empresa que produz centenas de milhares de barris ao dia justifica aos investidores a decisão de direcionar recursos humanos e equipamentos, ambos escassos, a projetos às vezes de vinte barris por dia?”, pergunta o professor e pesquisador do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Doneivan Ferreira.
Ao ser operado por uma grande empresa, diz o professor, um poço de baixa produção compete por serviços caros (o aluguel de uma sonda chega a 20 mil dólares diários) com unidades que produzem milhares de barris por dia. “Os poços marginais tendem a ser subaproveitados”, afirma Ferreira. “A Petrobras tem um papel fundamental para o País, mas há um novo mercado a ser fomentado.”
O professor conta que os pequenos produtores respondem por cerca de 40% do mercado de petróleo dos Estados Unidos, com poços que chegam a extrair de dois a três barris por dia. “Há uma força política para mantê-los em funcionamento”, diz. Um exemplo seria uma campanha com o lema Save our strippers (que, em tradução livre, poderia ser entendida como “salve nossos pelados”, em referência aos poços com pouco petróleo).
A facilidade de obtenção de licenças, equipamentos e serviços necessários à atividade explica a rentabilidade das reservas até a última gota. O livre acesso ao mercado também justifica a existência de 4 mil produtoras de petróleo apenas no estado americano de Oklahoma. Na Bahia, onde está localizada boa parte dos poços marginais do Brasil, apenas seis empresas de menor porte estão em operação.
O diretor-executivo da Associação das Empresas Produtoras de Petróleo de Campos Marginais, Anabal Santos, reclama da dificuldade de comercialização da produção das pequenas petroleiras, que têm apenas a estatal como compradora. “A Petrobras já se recusou a comprar, exigiu que fizéssemos o investimento necessário para que ela mesma pudesse tratar e depois passou a cobrar uma taxa por barril, que caiu de 20 para 13 dólares, ainda assim muito elevada”, afirma. Segundo Santos, a produção das associadas à entidade caiu de 2 mil para 800 barris ao dia nos últimos anos, por conta dos empecilhos à comercialização.
Outra queixa diz respeito ao prazo dos contratos de venda do petróleo, de no máximo seis meses – “tão curtos, não se vê no mundo”, diz Santos. A Petrobras alega não haver impasses na comercialização do petróleo de pequenos e médios produtores. “Existem 26 contratos em vigor, quatro em negociação e neste ano foram assinados oito novos”, informa a companhia.
A ANP, entusiasta da abertura dos campos marginais à competição, tem tentado mediar os conflitos entre as pequenas e médias produtoras e a estatal. “Conseguimos viabilizar a construção, pelas empresas, de uma estação de tratamento própria, cujo petróleo será aceito pela Petrobras”, afirma o assessor da ANP Nelson Ludwig.
A agência também tem atuado na formação de mão de obra para o segmento. Mantém, em convênio com a UFBA, um campo-escola instalado em uma fazenda no município de Catu, no Recôncavo Baiano. Com um poço em operação, a unidade produz 50 barris por dia, além de 6 mil metros cúbicos de gás natural. “Construí-mos a estação com investimentos de 1,9 milhão de reais, utilizando equipamentos usados e recuperados. Hoje a operação é rentável”, afirma o coordenador-regional da ANP no Nordeste, Francisco Nelson.
O executivo afirma que, com a cotação do petróleo nos patamares atuais, acima de 70 dólares por barril, não é difícil tornar viável uma atividade de pequeno porte. “A exploração de um poço que produza apenas dez barris por dia, com investimentos na casa de 400 mil reais, garante um faturamento mensal superior a 20 mil reais”, calcula. O engenheiro Claudio Goraieb, gerente da área de petróleo da Severo Villares, ressalva que os custos iniciais podem se elevar muito de acordo com as dificuldades encontradas na área de concessão.
“Para arrematar nosso campo, na sétima rodada de licitações, em 2005, pagamos 200 mil reais de bônus e apresentamos um plano de investimentos de 10 milhões de reais em dois anos. Não é para qualquer um”, diz o engenheiro. O grupo participou das três rodadas seguintes, mas a Petrobras apresentou ofertas em média dez vezes superiores às apontadas como viáveis nos estudos da Severo Villares. “Queremos expandir a carteira, sem a pretensão de travar uma luta de Davi contra Golias.”
A atuação petrolífera da Severo Villares, originalmente uma prestadora de serviços de logística, transporte e fornecimento de mão de obra, se resume à exploração de dez poços, espalhados em uma área de 20 quilômetros quadrados. Apenas quatro estão em operação, e a empresa aguarda a aprovação da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para fazer novas perfurações no terreno, que teria revelado potencial para incrementar a produção atual, de cerca de cem barris diários.
Ainda que a extração de petróleo empregue apenas quinze funcionários, e nem todos sejam moradores da região, a chegada da empresa trouxe mudanças significativas às poucas dezenas de famílias dos povoados, onde a maioria dos moradores se conhece e quase todos adotam “dos Santos” no sobrenome, mesmo que não haja grau de parentesco.
“Na roça a gente trabalha todo dia e não tem quase nada. Agora dei uma arrumada na casa, comprei tevê, sofá, estante”, afirma Genilson dos Santos, de 33 anos, pai de seis filhos. Ele trabalha no galpão da pequena petrolífera ao lado do amigo de infância Ednilson Bispo dos Santos, de 30 anos, que chegou a se mudar para a periferia de Aracaju, onde trabalhou como pedreiro. Graças à chegada da empresa, pôde voltar para a terra natal. “Tinha de pagar aluguel e vivia uma vida meio ‘dificultosa’ na capital.”
Os benefícios não foram colhidos apenas pelos empregados. O bar local se transformou em restaurante, e uma pousada foi aberta. O comércio começou a atrair também funcionários da Petrobras, que mantém operações a alguns quilômetros dali. Empresas da região custearam a construção de um galpão para a prática de artesanato, uma das poucas alternativas locais de renda. “O dinheiro que ganho aqui é tudo o que chega às minhas mãos”, conta a fundadora da Associação de Artesanato dos Povoados de Tigre e Junça, -Iracema dos Santos Teixeira, de 47 anos.
No Brasil do pré-sal, com novas reservas estimadas na casa de dezenas de bilhões de barris de petróleo, é difícil enxergar relevância econômica em operações fadadas a gerar algumas dezenas, ou centenas, de barris diários. Mas o tema motivou uma polêmica recente na discussão das novas regras para o setor, em tramitação no Congresso. Uma emenda do projeto do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) previa que os campos de até 1 milhão de barris – limite para serem classificados como marginais – teriam as concessões licitadas a exploradores independentes.
Em meados de novembro, a proposta foi substituída no relatório por um artigo que atribui ao Poder Executivo a responsabilidade de elaborar políticas e medidas de estímulo à atividade de petroleiras de pequeno e médio porte. Segundo representantes do segmento, a mudança obedeceu a pressões da Petrobras. “Somos reféns da oferta de áreas atrativas para ganhar escala de produção”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás, Oswaldo Pedrosa.
Procurada por CartaCapital, a Petrobras respondeu que a emenda resultaria em “impacto direto nas estratégias de exploração e produção da companhia”. De acordo com a estatal, as bacias maduras terrestres (áreas exploradas há muitos anos) são responsáveis por 18% da produção nacional.
“A Petrobras não entende que deva ser responsável por estimular esse segmento da indústria através da cessão de direitos e obrigações de contratos de concessão e de ativos que são aderentes à sua estratégia empresarial de exploração e produção”, informou a empresa, em nota. “Os campos em bacias maduras terrestres dos quais a Petrobras é concessionária somente deixarão de ter importância estratégica para a companhia quando tornarem-se inviáveis economicamente.”
Os defensores da entrada de novos grupos no setor questionam justamente a diferença do conceito de viabilidade econômica para grandes e pequenos produtores. “Como uma empresa que produz centenas de milhares de barris ao dia justifica aos investidores a decisão de direcionar recursos humanos e equipamentos, ambos escassos, a projetos às vezes de vinte barris por dia?”, pergunta o professor e pesquisador do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Doneivan Ferreira.
Ao ser operado por uma grande empresa, diz o professor, um poço de baixa produção compete por serviços caros (o aluguel de uma sonda chega a 20 mil dólares diários) com unidades que produzem milhares de barris por dia. “Os poços marginais tendem a ser subaproveitados”, afirma Ferreira. “A Petrobras tem um papel fundamental para o País, mas há um novo mercado a ser fomentado.”
O professor conta que os pequenos produtores respondem por cerca de 40% do mercado de petróleo dos Estados Unidos, com poços que chegam a extrair de dois a três barris por dia. “Há uma força política para mantê-los em funcionamento”, diz. Um exemplo seria uma campanha com o lema Save our strippers (que, em tradução livre, poderia ser entendida como “salve nossos pelados”, em referência aos poços com pouco petróleo).
A facilidade de obtenção de licenças, equipamentos e serviços necessários à atividade explica a rentabilidade das reservas até a última gota. O livre acesso ao mercado também justifica a existência de 4 mil produtoras de petróleo apenas no estado americano de Oklahoma. Na Bahia, onde está localizada boa parte dos poços marginais do Brasil, apenas seis empresas de menor porte estão em operação.
O diretor-executivo da Associação das Empresas Produtoras de Petróleo de Campos Marginais, Anabal Santos, reclama da dificuldade de comercialização da produção das pequenas petroleiras, que têm apenas a estatal como compradora. “A Petrobras já se recusou a comprar, exigiu que fizéssemos o investimento necessário para que ela mesma pudesse tratar e depois passou a cobrar uma taxa por barril, que caiu de 20 para 13 dólares, ainda assim muito elevada”, afirma. Segundo Santos, a produção das associadas à entidade caiu de 2 mil para 800 barris ao dia nos últimos anos, por conta dos empecilhos à comercialização.
Outra queixa diz respeito ao prazo dos contratos de venda do petróleo, de no máximo seis meses – “tão curtos, não se vê no mundo”, diz Santos. A Petrobras alega não haver impasses na comercialização do petróleo de pequenos e médios produtores. “Existem 26 contratos em vigor, quatro em negociação e neste ano foram assinados oito novos”, informa a companhia.
A ANP, entusiasta da abertura dos campos marginais à competição, tem tentado mediar os conflitos entre as pequenas e médias produtoras e a estatal. “Conseguimos viabilizar a construção, pelas empresas, de uma estação de tratamento própria, cujo petróleo será aceito pela Petrobras”, afirma o assessor da ANP Nelson Ludwig.
A agência também tem atuado na formação de mão de obra para o segmento. Mantém, em convênio com a UFBA, um campo-escola instalado em uma fazenda no município de Catu, no Recôncavo Baiano. Com um poço em operação, a unidade produz 50 barris por dia, além de 6 mil metros cúbicos de gás natural. “Construí-mos a estação com investimentos de 1,9 milhão de reais, utilizando equipamentos usados e recuperados. Hoje a operação é rentável”, afirma o coordenador-regional da ANP no Nordeste, Francisco Nelson.
O executivo afirma que, com a cotação do petróleo nos patamares atuais, acima de 70 dólares por barril, não é difícil tornar viável uma atividade de pequeno porte. “A exploração de um poço que produza apenas dez barris por dia, com investimentos na casa de 400 mil reais, garante um faturamento mensal superior a 20 mil reais”, calcula. O engenheiro Claudio Goraieb, gerente da área de petróleo da Severo Villares, ressalva que os custos iniciais podem se elevar muito de acordo com as dificuldades encontradas na área de concessão.
“Para arrematar nosso campo, na sétima rodada de licitações, em 2005, pagamos 200 mil reais de bônus e apresentamos um plano de investimentos de 10 milhões de reais em dois anos. Não é para qualquer um”, diz o engenheiro. O grupo participou das três rodadas seguintes, mas a Petrobras apresentou ofertas em média dez vezes superiores às apontadas como viáveis nos estudos da Severo Villares. “Queremos expandir a carteira, sem a pretensão de travar uma luta de Davi contra Golias.”
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